Maratona Cidade do México e a polêmica das fraudes para pegar a medalha

A 36ª Maratona Cidade do México aconteceu no dia 26 de agosto.

É uma maratona incrível, que tem um trajeto muito legal.

Ela começa na Av. 20 de Noviembre (Zócalo Capitalino) e o local de chegada é no Estádio Olímpico Universitário, a rota revisita o trajeto que foi utilizado nos Jogos Olímpicos de 1968 e o evento este ano comemorou os 50 anos dos Jogos Olímpicos do México.

A corrida passa pelos principais pontos turísticos da cidade e agrada muito aos atletas, e além disso é uma prova que possui o selo Road Silver Label da IAAF, ou seja, é uma prova de altíssimo nível que tem como requisitos, por exemplo:

  • 5 atletas de elite de 5 países diferentes
  • Cobertura pela TV ao vivo
  • Cobertura pela internet em tempo real
  • Exames antidoping de alto nível

A medalha

Desde 2013, a medalha desse evento é uma letra. Após 6 maratonas consecutivas, o atleta completa a palavra MEXICO.

Visando evitar fraudes no desejo de obtenção das medalhas, os organizadores anunciaram que todas as seis medalhas estariam sendo comercializadas durante o evento e pelo site.

As medalhas desde 2013. Após 6 maratonas concluída forma-se a palavra MEXICO.

Mas o que aconteceu em 2018?

Você já ouviu falar de um termo em inglês chamado: cheaters? Ele é muito utilizado nas corridas de rua para identificar o atleta que não cumpre com todo o regulamento da prova, mas no sentido de “se dar bem”, significa um trapaceiro.

A Maratona Cidade do México foi farta em cheaters. O diretor de esportes da cidade do México, Horacio de la Vega, informou que mais de 3.000 corredores foram desqualificados, pois o resultado final, computado em função dos tempos oficiais com os chips concluíram que:

  • 38.336 atletas se inscreveram
  •  29.555 atletas largaram
  •  32.645 cruzaram o portal de chegada

A diferença de 3.090 corredores indica os atletas desqualificados, além disso, 2.011 não completaram a maratona.

Isso significa que 5.101 corredores foram desclassificados.

Cópia da tela apresentada pela organização da Maratona Cidade do México.

O número de 27.544 finalistas significa que a corrida do México está agora à frente da famosa Maratona de Boston, na qual mais de 25.000 atletas cruzaram a linha de chegada. Isso mesmo, mais atletas cruzaram a linha de chegada no México do que em Boston, e a prova do México fornece índice para Boston.

 A organização também confirma que 925 corredores completaram a palavra “MEXICO” de forma legal, significa que eles correram os 42 quilômetros de cada uma das seis últimas edições da Maratona.

Mas esse problema tem sido observado nos últimos anos. Creditam ao fato dos atletas desejarem ardentemente a medalha.

Apesar do elevado número de atletas eliminados em função dos resultados oficiais, os organizadores da corrida classificaram a edição deste ano como um sucesso. Será mesmo? Em 2017 foram 5.806 atletas desclassificados, uma proporção de 1 para 5.

Estatística feia

Pela análise feita pelo atleta americano Derek Murphy, o que pode ser claramente observado é que os atletas iniciam a maratona de qualquer parte do percurso, que há corte no trajeto.

A tabela a seguir mostra a passagem pelos atletas pelos tapetes de cronometragem e é fácil concluir que muitos estão pensando apenas em cruzar a linha de chegada por causa da medalha.

Análise feita pela atleta americano Derek Murphy que investiga situações de corrida de rua.

Não podemos considerar nesse levantamento os atletas que perderam a largada, que chegaram após o tapete ter sido desligado, mas podemos verificar o aumento de atletas que iniciam a prova no quilômetro 21, ou seja, que correram uma meia maratona e não maratona

No quilômetro 40, a queda de índice de passantes no tapete deve ser porque o tapete foi desligado, corredores lentos não passaram dentro do tempo limite da maratona.

Em uma maratona cronometrada, você espera que quase todos os corredores tenham um tempo de líquido no chip menor do que o tempo bruto, mas 4.608 corredores apareceram nos resultados iniciais com um tempo líquido igual ao tempo bruto. As explicação é que o corredor não passou no tapete na largada, mas passou ao longo do percurso ou no final, eles entraram em vários pontos ao longo do trajeto.

Óbvio que há atletas que desistiram no meio do trajeto por cansaço ou por problemas de ordem física. É uma pena eles entrarem na mesma estatística dos desclassificados por fraude, quando na verdade eles passaram pela maior parte dos tapetes de cronometragem, apenas não conseguiram concluir a maratona.

Visibilidade

A Maratona Cidade do México, com os número apresentados, será a oitava maior maratona no próximo ano e terá muita chance de obter o Selo Ouro da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF).

Largada da Maratona Cidade do México.

A indignação nas redes sociais

Além de ser algo prejudicial para imagem dos patrocinadores e da própria IAAF e das federações locais de atletismo, é um grande desrespeito com o atleta de verdade, aquele que treina e que luta para completar os 42km.

Diversas foram as discussões nas redes sociais condenando a atitude dos cheaters.

  • “Essas pessoas pensam que só porque pagaram a taxa de corrida têm direito a uma medalha”.
  • “A foto desse concluinte não tem cabelo desgrenhado e nem suor”.
  • “Um corredor cruzou a marca do quilômetro 30 em apenas 35 minutos na corrida”.
  • “É lamentável ver atletas de menores distância fazendo selfies e cortando caminho”.
  • “É realmente triste sobre o que o maior evento esportivo do nosso país deveria ser e o que é. Apenas uma grande oportunidade para selfies daqueles que querem olhar para uma medalha que eles não conquistaram”.
  • “O esporte no México não crescerá se não respeitarmos e entendermos que, ao fraudarmos uma medalha, desacreditamos o acontecimento”.
  • “Esperamos que a próxima edição da maratona volte a ser um sucesso, que a organização tome medidas muito fortes contra trapaceiros e que possamos chegar a eventos como a maratona Nova York”.

Os campeões no México

Masculino

  • Titus Ekiru – 2h10min38seg – Kenia (com quebra de recorde da maratona)
  • Edwin Kipngetich Koech – 2h12min35seg – Kenia
  • Matthew Kipkoech Kisorio – 2h13min14seg – Kenia
  • Tsegay Tuemay Weldlibanos – 2h16min32seg – Eritreia
  • Emmanuel Mnangat Chamer – 2h17min12seg – Kenia

“Eu curti o trajeto e altitude (2,240m) do México, pois é bem similar ao Kenia, por isso não me afetou muito”, disse Ekiru que bateu o recorde da prova: “Eu estou feliz por conseguir quebrar esse recorde e eu sentia que estava próximo, que eu realmente iria conseguir”.

Titus Ekiru no Estádio Olímpico Universitário. Fonte: IAAF.

Feminino

  • Etaferahu Woda Temesgen –  2h40min10seg – Etiópia
  • Fantu Eticha Jimma – 2h40min24seg – Etiópia
  • Tinbit Gidey Weldegebriel – 2h40min27seg – Kenia
  • Biruktayit Eshetu Degefa – 2h40min46seg – Etiópia
  • Pamela Jepkosgeli Rotich – 2h41min11seg – Kenia
Etaferahu Woda Temesgen no Estádio Olímpico Universitário. Fonte: IAAF.

 Índices para Boston

Muitos corredores lutavam por índices para Boston 2019, mas os atletas que foram desclassificados por fraude e que terminaram com tempos brutos entre 4h e 5h12min00seg também foram desqualificados devido às exigências de tempo de entrada para a prova. A organização removeu a maioria dos resultados questionáveis antes de enviar os resultados oficiais qualificados para Boston.

O que podemos concluir também

Não há evidência de qualquer erro de cronometragem generalizado ou sistemático, a ação dos atletas foi pessoal.

Não podemos considerar o ocorrido no México como algo cultural, pois, por exemplo, acontece em todas as maratonas da Disney, em menor escala, é mais um desejo por medalhas.

Muitos atletas estavam correndo para registros pessoais, ou talvez por um tempo de qualificação de Boston. É em detrimento desses corredores – que fazem um esforço legítimo – que algo tem que ser feito em relação aos atletas mais lentos que cortam o caminho.

 


Publicidade